- NOME COMPLETO: Senor Abravanel (em hebraico: סניור אברבנאל)
- APELIDOS: Silvio Santos, O Homem do Baú, O Peru que Fala
- NASCIMENTO: 12 de dezembro de 1930; Rio de Janeiro, DF
- FALECIMENTO: 17 de agosto de 2024 (93 anos) São Paulo, SP
- CAUSA DA MORTE: broncopneumonia em decorrência do vírus H1N1
- RESIDÊNCIA(S): São Paulo, SP, Orlando, Flórida, EUA
- FORTUNA: Baixa R$ 1,6 bilhão (2023)
- FAMÍLIA: Alexandre Pato (genro), Fábio Faria (genro), Tiago Abravanel (neto), Maria Aparecida Vieira (c. 1962; v. 1977), Íris Abravanel (c. 1978; m. 2024), Cíntia, Silvia, Daniela, Patrícia Rebeca, Renata
- OCUPAÇÃO: apresentador de televisão, empresário, produtor, radialista e cantor
- FILIAÇÃO: PFL (1988–1989), PMB (1989), PST (1990–1992), PFL (1992)
- RELIGIÃO: judaísmo
Silvio Santos, nome artístico de Senor Abravanel (Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1930 – São Paulo, 17 de agosto de 2024), foi um apresentador de televisão e empresário brasileiro. Foi ativo na televisão desde a década de 1960, expandiu seus negócios e construiu um grupo empresarial homônimo, além de ter atividades na música, no rádio e na política.
Foi proprietário do Grupo Silvio Santos, conglomerado que inclui entre suas empresas o Sistema Brasileiro de Televisão (popularmente conhecido pela sigla SBT), uma das maiores redes de TV do país, a Liderança Capitalização (administradora do título Tele Sena), a Jequiti e a TV Alphaville. Seu patrimônio líquido foi estimado em 1,3 bilhão de dólares em 2013, sendo a única celebridade brasileira na lista de bilionários da revista Forbes. Em 2001, Silvio Santos foi homenageado pela escola de samba carioca Tradição.
INÍCIO DE VIDA E FAMÍLIA
Senor Abravanel nasceu em 12 de dezembro de 1930, na Travessa Bemtevi, no bairro da Lapa, na região central da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil e sede do então Distrito Federal.
Filho primogênito de um casal de imigrantes vindo em 1924 para o Brasil: Alberto Abravanel (1897–1976), um imigrante judeu sefardita nascido na cidade de Tessalônica (hoje parte da Grécia), e Rebecca Caro (1907—1989) também judia de origem sefardita nascida na cidade de Esmirna (hoje parte da Turquia). Ambos os pais nasceram como súditos do Império Otomano. Silvio possui outros cinco irmãos: Beatriz (a mais velha), Perla, Sara (Sarita), Leon (Léo) e Henrique (o mais novo). Seus pais estão sepultados no Cemitério Comunal Israelita do Caju, Rio de Janeiro.
A mãe de Senor é quem o chamava de "Silvio". O sobrenome artístico surgiu quando Senor foi participar do programa de calouros comandado pelo apresentador Jorge Curi e o produtor Mário Ramos.
Ele era descendente de Dom Isaac Abravanel, um filósofo judeu Português responsável pelas finanças de Portugal e da Espanha no século XV (15).
EDUCAÇÃO E SERVIÇO NO EXÉRCITO BRASILEIRO
Senor e o irmão Léo frequentaram a Escola Primária Celestino da Silva, na rua do Lavradio, perto de onde moravam (rua Gomes Freire). Terminado o primário, estudaram na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, onde Senor se formou técnico em contabilidade. O primeiro tipo de produto que começou a comercializar foi capa para título de eleitor (o Brasil entrava numa fase de redemocratização após a ditadura do Estado Novo). Sua voz começou a chamar a atenção e foi chamado para fazer um teste na Rádio Guanabara. Passou em primeiro lugar, mas preferiu voltar a trabalhar como camelô porque faturava mais.
Em 1948, serviu o Exército Brasileiro na Escola de Paraquedistas, no bairro de Deodoro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde se destacou com saltos considerados bons.
INÍCIO COMO COMUNICADOR
Silvio Santos (à direita) com a equipe da Rádio Nacional de São Paulo |
Enquanto seguia no Exército, Silvio Santos voltou para o rádio. Como não atuava como paraquedista aos domingos, passou a trabalhar na Rádio Mauá nesse dia da semana, acompanhando o programa de Silveira Lima. Depois, transferiu-se para a Rádio Tupi. Nessa época, chegou a fazer algumas figurações para a TV Tupi. Também trabalhou na Rádio Continental, de Niterói.
Por trabalhar em Niterói, Silvio era usuário do serviço de barcas do Rio de Janeiro. Ao perceber que podia colocar um sistema de música para animar as viagens, apostou nesse novo tipo de serviço e pediu demissão da Continental. Conseguiu a aparelhagem e criou um serviço que trazia música e propagandas. O sucesso foi tanto que as barcas passaram a ter um bar e um bingo, onde o consumidor comprava um refrigerante e ganhava uma cartela para concorrer a prêmios como jarras e quadros.
Com o êxito no sistema de barcas, Silvio passou a ser o principal cliente da Antarctica na venda de refrigerantes e cervejas. Logo, passou a ser amigo de um dos diretores da empresa. Quando a barca ficou em reparos, Silvio foi convidado a ir para São Paulo. Conseguiu uma vaga na Rádio Nacional de São Paulo e continuou a carreira de empresário, criando uma revista chamada Brincadeiras para Você. Criou também uma caravana para se apresentar aos sábados e domingos em circos e clubes ao lado de outros artistas, que acabou ganhando o nome de "Caravana do Peru que Fala" devido ao apelido dado pelo amigo Manuel de Nóbrega, que fazia brincadeiras com Silvio em seu programa no rádio, deixando-o vermelho. Em 1958, Silvio participou de alguns "teledramas" na TV Paulista.
COMEÇO DO BAÚ DA FELICIDADE
Silvio Santos em 1959 |
Em 1958, Manuel de Nóbrega administrava junto com um alemão o Baú da Felicidade, que vendia brinquedos a prazo. O radialista contribuía com anúncios na Rádio Nacional, enquanto o sócio tocava a empresa. Entretanto, ele passou a ter dificuldades com a companhia, que não conseguia entregar os baús de brinquedos. Manuel havia sido traído pelo sócio alemão que ficou com o dinheiro.
Silvio assumiu a empresa, atendendo a um pedido de Manuel. Ao conhecer a sede, descobriu que o Baú da Felicidade funcionava numa espécie de "porão" na rua Libero Badaró. Silvio pediu ao alemão para que fosse embora. E pediu para que Manuel de Nóbrega continuasse a fazer os anúncios na Rádio Nacional.
O negócio passou a crescer sob o comando de Silvio Santos que mudou a sede da empresa, além de conseguir uma parceria com a Estrela na fabricação de 40 mil bonecas. Manuel de Nóbrega deixou a empresa sem jamais ter conhecido a sede (ele mesmo não se considerava um homem de negócios), fazendo com que Silvio assumisse o controle da companhia. O Baú passou a ser base dos programas que Silvio viria a apresentar na televisão. Dessa forma, Silvio manteve o sistema de crediário, mas criou lojas em que as pessoas poderiam trocar os carnês quitados por brinquedos ou eletrodomésticos.
COMEÇO E EXPANSÃO NA TELEVISÃO
Silvio ganhou a chance de estrelar seu programa de televisão, adaptando o formato dos shows, espetáculos e sorteios que fazia no circo. Seu primeiro programa, Vamos Brincar de Forca, estreou em 1960 e era transmitido pela TV Paulista canal 5 de São Paulo à noite, tendo obtido um imenso sucesso. Ficou poucos meses nessa faixa de horário, pois a TV Paulista desejava uma programação de variedades nas tardes de domingo, já que a emissora só iniciava a programação por volta das 15h30. Já em 1963, foi lançado o Programa Silvio Santos, sua principal marca.
Outras de suas marcas conhecidas também começaram a ser veiculadas nessa época: em dezembro de 1962, entrou no ar o Pra Ganhar É Só Rodar; em 1965, já existia o Festival da Casa Própria, este na TV Tupi.
Na Tupi, apresentava programas às quartas-feiras, incluindo atrações como Festa dos Sinos, Cidade contra Cidade e Silvio Santos Diferente, que foi transferido para a Record em 1976, ficando no ar de março a setembro, quando Silvio parou temporariamente de fazer programas à noite.
Em 1966, a TV Paulista se transformou na TV Globo São Paulo, e Silvio assinou um contrato de cinco anos com os novos proprietários. Atingiu a liderança de audiência ao vencer o programa Jovem Guarda, de Roberto Carlos, na Record.
Na medida em que aumentava o sucesso do Programa Silvio Santos, Silvio tinha ótimos resultados financeiros. Realizava sorteios de carros, móveis e eletrodomésticos, o que motivou a expansão dos negócios através da loja de móveis Tamakavy e a concessionária de veículos Vimave.
Quase tudo o que sei sobre o público, aprendi com um domador de circo. O público é como um leão, se você tiver medo, ele te devora!
— Silvio Santos, em entrevista para reportagem da Revista Veja, em 1969.
Em 1969, a Globo passou a exibir o Programa Silvio Santos em rede para o Rio de Janeiro, naquela altura líder absoluto de audiência. Antes, Silvio já havia feito uma experiência na televisão carioca pela TV Rio, em 1964, à frente do Revelações Kibon.
O Programa Silvio Santos começou a apresentar, em 1971, o Troféu Imprensa, premiação criada pelo jornalista Plácido Manaia Nunes. Em 1974, inaugurou a Studios Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda, que passou a ser a base da produção de seus programas, além da produção de comerciais de TV e coberturas jornalísticas. A empresa funcionava na sede da antiga TV Excelsior.
FUNDAÇÃO DA TVS RIO DE JANEIRO
No início dos anos 1970, Boni e Walter Clark, diretores da TV Globo, promoveram reformas no padrão de qualidade da emissora, investindo em filmes, esporte, jornalismo e novelas e acabando com os programas independentes. Para os executivos, o programa de Silvio Santos destoava da grade de programação.
O apresentador quase saiu da emissora em 1972, mas Roberto Marinho o convenceu a ficar, renovando o contrato por mais quatro anos. Silvio buscava uma concessão de televisão, mas o contrato com a Globo o impedia de ser sócio de uma outra emissora de TV. Até que Dermerval Gonçalves, empresário e amigo próximo de Silvio, procurou o empresário Joaquim Cintra Godinho, para que pudesse emprestar o nome na compra das ações da TV Record até que Silvio encerrasse o vínculo com a Globo. O negócio foi feito, e Cintra Godinho manteve esse segredo até o último instante. Tudo isso foi necessário para que Silvio não ficasse fora do ar em São Paulo.
A primeira etapa para conseguir um canal próprio de televisão seria no Rio de Janeiro, após a abertura de concorrência pelo canal 11. A intenção de Silvio em ter o canal recebeu o apoio de artistas do Brasil inteiro. Até mesmo Carlos Imperial, então crítico de seus programas, manifestou apoio a Silvio Santos.
No dia 22 de dezembro de 1975, o presidente Ernesto Geisel e o ministro Quandt de Oliveira assinaram o decreto 76.488, outorgando a frequência para Silvio Santos. A oficialização da concessão aconteceu em Brasília, com a presença de Silvio e de Manuel de Nóbrega, que relembraram o início da amizade em São Paulo. Silvio pretendia que Manuel fosse diretor-superintendente do novo canal, mas o amigo estava em tratamento de um câncer e faleceu no dia 17 de março de 1976 sem ver a estação ser inaugurada.
O primeiro desafio de Silvio Santos era colocar o canal no ar em pouco tempo. Silvio comprou equipamentos nos Estados Unidos, mas viu nos jornais que haveria um leilão da massa falida da TV Continental. Estando interessado na torre, Silvio arrematou o equipamento. A mídia da época informou que o apresentador havia arrematado sucata, mas foi descoberto que os equipamentos da Continental eram aptos para transmitir a cores. Assim, em 14 de maio de 1976, foi inaugurada a TVS Rio de Janeiro. A programação da emissora era composta por séries e filmes. A partir do dia 1.º de agosto de 1976, uma semana depois de deixar a Globo, o Programa Silvio Santos passou a ser exibido na TVS. O ano de 1976 também foi marcado pela formalização da compra de 50% das ações da TV Record. Assim, o Programa Silvio Santos era transmitido pela Rede Tupi, TVS e Record.
Em 1977, Silvio Santos entrou no mercado das telenovelas, quando seu estúdio produziu a novela O Espantalho (1977), sendo exibido na TVS e na Record.
FORMAÇÃO DO SBT
Silvio prosseguiu na Rede Tupi, embora já houvesse rumores de que a emissora poderia ser fechada. Em seu último contrato, válido a partir do dia 1.º de fevereiro de 1980, havia uma cláusula que permitia a Silvio migrar para outra rede, sem pagar multa, em caso de excepcional importância. E o fechamento total da Tupi aconteceu no dia 16 de julho de 1980. As emissoras que até então exibiam a Tupi, acabaram migrando para a TVS. Enquanto isso, o governo federal abriu licitação para os canais cassados da Tupi e as emissoras que estavam desativadas - o canal 9 de São Paulo, da Excelsior, e o canal 9 do Rio, da Continental. Começou uma batalha política para que Silvio pudesse ser o concessionário dos canais desativados - entre os concorrentes estavam empresas como a Rádio Jornal do Brasil, Grupo Abril, o Grupo Bloch e a rede de rádios do empresário Paulo Abreu. Silvio pediu para o IBOPE fazer uma pesquisa para perguntar aos brasileiros sobre quais grupos o governo deveria entregar as concessões de televisão. Os resultados que colocavam o apresentador como grande favorito do público foram publicados nos jornais no dia 26 de outubro de 1980.
Silvio Santos (esquerda) junto ao então presidente João Figueiredo (ao centro) e sua filha Silvia Abravanel (à direita), nos anos 1980. |
Em 1981, através de um lobby com a primeira-dama Dulce Figueiredo, com quem tinha longas conversas por telefone, Silvio Santos foi um dos vencedores da concorrência pública do governo federal. A outra empresa vencedora foi o Grupo Bloch, que formou a Rede Manchete. O Sindicato dos Radialistas de São Paulo reclamou do resultado da licitação. A entidade afirmou que Silvio estava mais preocupado em vender carnês do Baú da Felicidade e lembrou da situação da emissora do Rio de Janeiro, que exibia "enlatados". Silvio foi o vitorioso pelo canal 4 de São Paulo, a antiga Tupi. O objetivo seguinte foi colocar a nova emissora no ar rapidamente. Foram reaproveitados os ex-funcionários do antigo canal paulistano. A transmissão foi feita a partir da torre da Record com transmissores importados da RCA norte-americana. Outra opção seria alugar os equipamentos da Tupi, mas Silvio temia em ser considerado o sucessor e herdeiro das dívidas da emissora cassada.
No dia 19 de agosto de 1981, às 9h30, entrava no ar a TVS São Paulo que, junto com a TVS Rio de Janeiro, formavam as duas primeiras emissoras do Sistema Brasileiro de Televisão. A primeira transmissão foi justamente a assinatura do contrato de concessão, que teve a presença do ministro das Comunicações, Haroldo Correa de Matos. Depois, foram exibidos os programas O Povo na TV e Bozo, com desenhos como Tom & Jerry, Pica-Pau e Pernalonga. Em seguida, entraram no ar os outros canais outorgados a Silvio Santos. Em 26 de agosto de 1981, entrava no ar a TVS Porto Alegre; e o sinal de Belém chegou no dia 2 de setembro. Silvio também tinha a outorga do canal 9 do Rio de Janeiro, que foi cedido para Paulinho Machado de Carvalho para a transmissão da TV Record do Rio de Janeiro. Posteriormente, se transformaria na TV Corcovado, que acabou vendida a José Carlos Martinez para formar a Rede CNT, sediada em Curitiba.
GUERRA PELA AUDIÊNCIA
A popularidade de Silvio Santos fez o novato SBT crescer em audiência e incomodar a líder Rede Globo, inclusive fazendo estratégias nada convencionais para garantir a liderança de público. Em 1987, a emissora adquiriu os direitos da minissérie Pássaros Feridos. Para poder chamar o público para acompanhar a série [a qual o apresentador chamava de "filme", um costume seu da época], Silvio fez o seguinte anúncio em seu programa:
Logo depois da novela da Globo, vocês poderão assistir a um filme sensacional. Não precisa deixar de assistir à novela. Vejam a novela e depois vejam o filme.
— Silvio Santos, em agosto de 1985.
A novela em questão era Roque Santeiro, sucesso absoluto de audiência na Globo. A estratégia deu certo: sem a concorrência da novela, Pássaros Feridos obteve 47 pontos de audiência na Grande São Paulo, contra 27 da Globo. A vitória fez a emissora carioca fazer algo impensável: mexer na grade de programação conhecida pela pontualidade. A Globo esticou a exibição do Jornal Nacional e de Roque Santeiro, que terminou às 21h55, em vez das 21h20. O SBT exibiu episódios do desenho A Pantera Cor de Rosa até que a Globo encerrasse a exibição da novela. Dessa forma, Silvio manteve a promessa em exibir a minissérie somente após o término da novela da Globo e voltou a vencer a emissora carioca na audiência.
Entre 1987 e 1988, a programação do SBT foi marcada pelas novas contratações. Chegaram nomes como Hebe Camargo e Carlos Alberto de Nóbrega (filho de Manuel da Nóbrega e que se reconciliara com Silvio Santos após uma década). O departamento de jornalismo foi reforçado e houve a contratação de Jô Soares, vindo da Globo. Para anunciar a chegada do humorista, Silvio interrompeu a exibição do telejornal Noticentro para anunciar "uma reviravolta na televisão brasileira", conforme suas palavras. Jô Soares passou a ser o principal salário da emissora (e o maior da televisão brasileira) e o grande rosto para atrair os anunciantes.
Outro reforço na programação foi com o pacote de filmes. O SBT anunciou a exibição do filme Rambo: Programado para Matar para o dia 17 de agosto de 1988, mas a Globo contra-atacou e marcou a exibição de Rambo II para o mesmo dia. O resultado foi que o SBT transferiu a exibição de seu filme para a semana seguinte.
O SBT programou a exibição de Rambo para o dia 26 de agosto. A Globo exibiu um capítulo duplo da novela Vale Tudo, enquanto a resposta de Silvio Santos foi deixar o SBT com a tela congelada e a mensagem "Não se preocupe, quando terminar a novela da Globo, você vai ver Rambo". A situação permaneceu por 50 minutos, mas deu certo: o SBT venceu a Globo na audiência.
PROBLEMA NAS CORDAS VOCAIS
Em 1988, Silvio passou por um momento delicado na carreira. O apresentador passou quatro semanas de tratamento médico nos Estados Unidos por causa de um problema nas cordas vocais. Também foi examinado um tumor que tinha na pálpebra, que era benigno. Silvio viajou para Boston e acabou ficando fora do ar nesse período.
Silvio percebeu que precisava de alguém que o sucedesse como apresentador. Por causa disso, trouxe Gugu Liberato de volta ao SBT, já que o apresentador - sucesso no Viva a Noite - havia sido contratado pela Globo. Fez uma proposta considerada irrecusável ao apresentador e depois foi ao Rio de Janeiro conversar com Roberto Marinho, dono da emissora concorrente. A partir daquele ano, Silvio passou a dividir com Gugu a apresentação do Programa Silvio Santos, apresentando segmentos como TV Animal, Passa ou Repassa e Corrida Maluca. O maior sucesso dominical de Gugu foi o Domingo Legal, que permaneceu sob seu comando até 2009, ano em que o apresentador saiu do SBT.
O dia 21 de fevereiro de 1988 ficou marcado pelo retorno de Silvio Santos à tela em uma edição especial do Show de Calouros. O apresentador ficou três horas no ar, ao vivo, e respondeu perguntas do público e dos jurados, desmentindo boatos de que estaria com câncer ou com Aids. Silvio ainda recebeu a homenagem de Hebe Camargo, que lhe entregou o Troféu Imprensa de melhor apresentador de 1986. A apresentadora não conseguiu conter as lágrimas durante a homenagem.
ANOS 1990: TELE SENA, TOPA TUDO POR DINHEIRO, TELETON E SHOW DO MILHÃO
A partir de 1991, Silvio Santos estreou um de seus maiores sucessos: o Topa Tudo por Dinheiro. O programa consistia em brincadeiras com auditório e as câmeras escondidas, onde os atores do programa gravam brincadeiras insólitas com transeuntes. A atração atingiu rapidamente a liderança na audiência, mas chegou a sofrer investigação do Banco Central, pois Silvio jogava notas de dinheiro dobradas como aviões ao público. A acusação de danificação não chegou a ir para a frente.
Outro sucesso veio no mesmo ano, que foi o sorteio da Tele Sena, através da Liderança Capitalização, uma das empresas do Grupo Silvio Santos. O título de capitalização foi um grande sucesso, gerando grandes filas nas agências dos Correios. Em 1993, a modalidade rendia 40 milhões de dólares ao ano para Silvio.
Silvio Santos deu início em 1998 o Teleton, sendo criado junto com Hebe Camargo. Anualmente, o SBT passou a reservar um dia de sua grade para arrecadar doações para a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), sendo inspirado em uma iniciativa do comediante Jerry Lewis. O programa recebe atrações musicais e tem a participação de vários artistas, inclusive de emissoras concorrentes.
Em 1999, Silvio Santos estreou Show do Milhão, outro sucesso de audiência. O programa de perguntas e respostas era exibido na faixa da noite e chegou à liderança de público. O auge veio em 2002, quando a Nestlé foi a principal patrocinadora ao investir cerca de R$ 60 milhões em publicidade. O programa voltaria em 2003 e em 2009, mas sem o mesmo êxito.
ENREDO DE ESCOLA DE SAMBA
Em 2001, Silvio Santos foi enredo da escola de samba Tradição no carnaval do Rio de Janeiro. A agremiação tentava havia cinco anos que o apresentador aceitasse o convite para desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. O enredo ganhou o título Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e cantar.
O samba da Tradição para aquele carnaval tornou-se um sucesso, sendo tocado nos intervalos da programação do SBT. O Cordão da Bola Preta colocou a música para ser tocada em seu desfile. O SBT chegou a negociar com a Globo (detentora dos direitos de transmissão) a exibição do desfile, mas não obteve êxito.
No dia do desfile, Silvio acabou sendo o grande personagem das passagens das escolas de samba. O apresentador foi ovacionado pelo no público, no desfile considerado o melhor daquele dia - um domingo de carnaval. A Tradição acabou ficando em oitavo lugar, mas a escola levou os prêmios de melhor samba-enredo, melhor enredo e melhor personagem do carnaval pelo jornal O Dia. Além disso, a pesquisa Ibope-Globo feita no Sambódromo deixou a escola em terceiro lugar.
SEQUESTROS DE PATRÍCIA ABRAVANEL E SILVIO SANTOS
- Local do crime: São Paulo, SP, Brasil
- Data: 21 a 30 de agosto de 2001
- Vítimas: Patrícia Abravanel e Senor Abravanel
- Réu(s): Fernando Dutra Pinto, Marcelo Batista Santos, Luciana Santos Sousa e Tatiane Pereira
- Situação: Fernando Dutra Pinto morto antes do julgamento, e os outros três réus condenados de 15 a 19 anos de prisão.
Patrícia Abravanel tinha 23 anos e era estudante de administração de empresas na época do caso. Um grupo de seis homens invadiu a mansão onde ela morava junto com o pai, a mãe e as três irmãs, em São Paulo. Na época, Silvio Santos publicou uma nota dizendo que não ia envolver a imprensa ou a polícia no caso. O Jornal do Brasil informou que mantém a publicação de notícias sobre sequestros por acreditar que a omissão beneficiaria os criminosos.
A TV Globo viu-se obrigada a quebrar o protocolo ao falar sobre um caso envolvendo alguém próximo de um empresário de emissora concorrente, o SBT. O caso ganhou manchetes por dias no Jornal Nacional, principal noticiário da rede carioca. A própria Globo argumentou na época que divulgar os sequestros era uma decisão da diretoria, tendo sido tomada na década de 1990 por causa da onda de sequestros acontecida no Rio de Janeiro. Assim como o Jornal do Brasil, a emissora entendia que manter o silêncio só beneficiaria os criminosos.
Já no SBT, o caso afetou a programação da emissora, que não exibiu os tradicionais programas apresentados por Silvio Santos. O Show do Milhão — principal atração comandada por Silvio — e o sorteio da Tele Sena não foram exibidos no domingo seguinte ao sequestro de Patrícia, dia 26 de agosto de 2001.
O sequestro permaneceu por dias sem grandes novidades. A Polícia Federal chegou a se oferecer para ajudar no caso.
Patrícia só foi libertada na madrugada do dia 28, após o pagamento de um resgate de 500 mil reais. O cativeiro ficava a dez quilômetros de sua residência. Ela foi colocada vendada no banco da frente de seu próprio carro, um Passat azul, e foi libertada na Marginal Pinheiros. Patrícia chegou em sua casa por volta das 2h50.
Pela tarde, pai e filha concederam uma entrevista coletiva na sacada da mansão em São Paulo. Evangélica, Patrícia se pronunciou em um tom religioso e disse que perdoava os sequestradores.
Eu perdoo os sequestradores, eu não perdoo o sistema de corrupção do Brasil. Acontece isso porque o povo está mal cuidado pelos governos, pela corrupção. Eu quero que o juízo de Deus venha sobre o sistema de corrupção do Brasil, que o povo brasileiro merece ser cuidado. ”
— Patrícia Abravanel
Patrícia falou com a imprensa de maneira sorridente e fez várias citações religiosas. Ela disse que estava com a Bíblia e um dos sequestradores disse: "Você é a melhor pessoa do mundo". Na época, levantou-se a possibilidade de que ela estaria sofrendo da Síndrome de Estocolmo, um estado psicológico na qual a vítima se apega ao criminoso.
Silvio também se pronunciou sobre o caso. Na entrevista, ele disse que Patrícia "fala com o coração" e até brincou dizendo que "devia pedir para que os sequestradores ficassem mais tempo com ela".
No dia 28 de agosto, menos de 24 horas depois da libertação de Patrícia Abravanel, a polícia de São Paulo prendeu dois sequestradores. Marcelo Batista Santos, à época com 27 anos, e Esdras Dutra Pinto, com 19. Ainda estavam sendo procurados Fernando Dutra Pinto, irmão de Esdras, e uma namorada, conhecida como Jenifer. O casal estaria com o dinheiro do resgate, cerca de 500 mil reais.
Fernando Dutra Pinto acabou sendo descoberto em um hotel no centro comercial de Alphaville, no município de Barueri. Ele trocou tiros com policiais do 91º Distrito Policial, matando dois investigadores: Marcos Amorim Bezerra e Tamatsu Tamaki. O sequestrador acabou fugindo.
SEQUESTRO DE SILVIO SANTOS
Após o sequestro da filha, Silvio Santos retomou a sua rotina no SBT. No dia 29 de agosto, ele fez as gravações para o Show do Milhão e o Tentação e também falou sobre o caso, agradecendo as pessoas que rezaram pela integridade de Patrícia Abravanel.
Na manhã do dia 30 de agosto, Fernando Dutra Pinto reapareceu ao invadir a casa do apresentador, no Morumbi. A mulher, as filhas e funcionários conseguiram sair, enquanto que o apresentador ficou rendido na mansão com uma arma apontada na cabeça.
Silvio ficou no salão de ginástica e depois levado para a cozinha. Policiais civis e militares cercaram a mansão. O sequestrador não quis negociar e chegou a exigir um helicóptero para a fuga.
O apresentador permaneceu por quase oito horas em poder do criminoso. Ele foi libertado por volta das 14h40, ao lado do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que foi até o local do sequestro para participar das negociações. Fernando foi levado ao Centro de Detenção Provisória do Belém, onde estavam os outros dois presos.
O fato mobilizou as emissoras de televisão. Principal concorrente do SBT, a Globo noticiou o caso por volta das 8h40, quando o apresentador Carlos Nascimento, então no Jornal Hoje, fez uma entrada no programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga, informando que Fernando Dutra Pinto refugiou-se na casa de Silvio Santos. Por volta das 9 horas, o caso foi coberto sem interrupções, fato repetido pelas outras emissoras. A cobertura fez aumentar a audiência das emissoras de televisão, deixando a Globo com 23 pontos, picos de 31. O SBT ficou com 10 pontos, picos de 19, e a Record com média de 7 e pico de 12. Em média, 30% dos aparelhos de televisão de São Paulo ficavam ligados no período da manhã, mas o sequestro fez essa fatia aumentar para 55%. Ao todo, mais de 3 milhões de pessoas acompanharam o caso somente na Grande São Paulo.
Presidente da República na época do sequestro, Fernando Henrique Cardoso elogiou a atuação da polícia de São Paulo. O mandatário disse que os policiais agiram "com eficiência", mostrando que a corporação está "preparada para enfrentar sequestros como esse".
Geraldo Alckmin enfrentou críticas por ter ido até o local do sequestro. No entanto, o governador defendeu sua atuação e disse que "faria tudo de novo".
Silvio Santos recusou pedidos de entrevistas para falar sobre o caso. O apresentador prestou depoimento no dia 3 de setembro, confirmando que Fernando Dutra Pinto chegou a pedir um helicóptero para a fuga.
CASA DOS ARTISTAS
Em 2001, Silvio Santos ingressou no mercado de reality shows. No dia 28 de outubro daquele ano, entrava no ar a Casa dos Artistas, o primeiro programa de confinamento da história da televisão brasileira. A produção aconteceu de maneira sigilosa, sendo que apenas Silvio e poucos executivos da emissora sabiam sobre a estreia do programa.
Inicialmente, Silvio negociava os direitos do Big Brother, que acabaram indo para a Globo. Silvio estreou por conta própria a Casa dos Artistas, colocando doze personalidades confinadas em uma casa: Bárbara Paz, Supla, Mari Alexandre, Patrícia Coelho, Alexandre Frota, Mateus Carrieri, Taiguara Nazareth, Nana Gouvêa, Núbia Óliver, Marco Mastronelli, Leandro Lehart e Alessandra Scatena, que assinaram um contrato de confidencialidade para que a ideia da atração não vazasse. O público só ficou sabendo do programa no dia da estreia, e a curiosidade rendeu uma vitória do SBT em cima do Fantástico, da Globo. Como a Globo era dona do formato do Big Brother, a emissora chegou a entrar com uma liminar na Justiça, fazendo com que o SBT interrompesse a exibição do programa. O SBT reverteu a decisão e continuou a exibir a atração.
A vitória da primeira edição ficou com Bárbara Paz, até então uma atriz pouco conhecida que foi escalada às pressas após Suzana Alves desistir de entrar no programa faltando três dias para a estreia. O programa rendeu 46 pontos de média em audiência, feito até hoje histórico para o SBT. A Casa dos Artistas ainda teve mais duas edições, mas sem o mesmo êxito.
ENTREVISTA À CONTIGO! EM 2003
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