- NOME COMPLETO: Luís da Câmara Cascudo
- NASCIMENTO: 30 de dezembro de 1898; Natal, RN
- FALECIMENTO: 30 de julho de 1986 (87 anos); Natal, RN
- OCUPAÇÃO: historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado, jornalista e escritor
- PRÊMIOS: Prêmio Machado de Assis (1956), Prêmio Juca Pato (1977)
- MOVIMENTO LITERÁRIO: modernismo, regionalismo
- MAGNUM OPUS: Dicionário do Folclore Brasileiro
Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 – 30 de julho de 1986) foi um historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado, jornalista e escritor brasileiro. Passou toda a sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo do folclore e da cultura brasileira. Foi professor da Faculdade de Direito de Natal, hoje Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), cujo Instituto de Antropologia leva seu nome. Deixou obra volumosa e de grande relevância, em particular sobre história, folclore e cultura popular. Recebeu o Prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras, em 1956, pelo conjunto de sua obra.
BIOGRAFIA
Câmara Cascudo nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte no ano de 1898. Era filho de Francisco Justino de Oliveira Cascudo e de Ana Maria da Câmara, e devido a uma saúde frágil iniciou o hábito da leitura muito cedo.
Sua família era influente na região de Campo Grande, no interior do estado, e tinha uma tradicional ligação com a política. Seu avô materno, Manoel Fernandes Pimenta, foi um rico fazendeiro e senhor de escravos. O avô paterno, Antônio Justino de Oliveira, havia sido um devotado membro do Partido Conservador, que na época representava a aristocracia rural, e por tal associação recebera o apelido de "o Velho Cascudo", que na geração seguinte foi incorporado ao sobrenome familiar. O pai, Francisco Justino, foi tenente da Guarda Nacional e delegado de polícia em Caicó, e na década de 1890 fixou-se em Natal, onde elegeu-se deputado e por algum tempo foi o mais abastado comerciante da cidade, além de presidente da Associação dos Comerciantes. Sua casa era um ponto de encontro de personalidades da cultura, das artes e da política. A riqueza familiar possibilitou a Cascudo receber uma educação esmerada através de professores particulares, complementada por cursos no Externato Sagrado Coração de Jesus e no Colégio Diocesano Santo Antônio. O pai também era dono do jornal A Imprensa, onde Cascudo aos dezenove anos começou a trabalhar. Ali publicou em 1918 sua primeira crônica, "O Tempo e Eu", e manteve a coluna "Bric-à-Brac".
Fez os estudos secundários no Colégio Atheneu. Em 1920 escreveu as notas e a introdução da antologia poética de Lourival Açucena intitulada Versos reunidos. No ano seguinte publicou sua primeira obra autoral, o volume de críticas literárias Alma patrícia. Na mesma época iniciou o curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, porém não o concluiu. Posteriormente estudou Direito a partir de 1924 na Faculdade de Direito do Recife, formando-se na instituição em 1928. O Direito não estava no centro de seus horizontes, e havia entrado neste caminho mais por pressão familiar do que por uma vocação irresistível, pois o título de bacharel era muito prestigiado social e politicamente. No mesmo ano formou-se em Etnografia na Faculdade de Filosofia do Rio Grande do Norte. Em 21 de abril de 1929 casou-se com Dália Freire, que lhe daria dois filhos, Fernando Luís e Anna Maria.
Nesta altura seu pai havia entrado em uma espiral de decadência financeira que o levaria à falência em 1932, situação que forçou Cascudo a procurar outros trabalhos, uma vez que o jornalismo e a literatura, então seus principais interesses, não permitiriam seu sustento. Iniciou assim, auxiliado pelos contatos influentes da família, uma carreira de advogado e professor. Sua posição como intelectual foi se firmando em íntima associação com os poderosos, seguindo um modelo de vida típico dos descendentes empobrecidos da antiga aristocracia nortista. Segundo Gomes & Gomes, "Foi como professor que Câmara Cascudo quis ser identificado, e foi a partir dessa ocupação que ele partiu depois para o estudo da cultura, tornando-se conhecido como jornalista, historiador, etnólogo, folclorista, antropólogo e escritor interessado na região. [...] Sua atividade diária foi cercada pelo poder, pois ele viajava, jantava e veraneava com generais, coronéis e políticos de Natal. Sua vida torna-se um exemplo da dependência que muitos escritores tinham de grupos da elite, situação em que o reconhecimento intelectual é dado pela posição social dos amigos. O lugar institucional de onde fala Câmara Cascudo implica uma aliança entre poder e saber.
Lecionou história do Brasil no Atheneu, do qual foi diretor até 1930. No ano de 1934 é aceito como sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), tornando-se um ativo escritor no instituto. Paralelamente, trabalhou para os jornais A República e Diário de Natal. Foi diretor da Escola Normal de Natal em 1934, em 1935 era secretário do Tribunal de Apelação, em 1936 participou da fundação da Academia Norte-Riograndense de Letras, e na década de 1940 integrou a comissão organizadora da Biblioteca e Arquivo em Natal.
A música estivera presente em sua vida desde o início, chegando a ser um habilidoso intérprete de violão e piano. Deu muitos recitais improvisados na casa de seu pai para a família, amigos e visitantes, em solo ou em companhia de outros músicos. O maestro Waldemar de Almeida o considerava um grande acompanhador de modinhas e canções, o compositor Oswaldo de Souza se impressionou com sua capacidade improvisativa e com os sensíveis arranjos que fazia para melodias populares, e o celebrado Canhoto o chamou de o melhor violonista de Natal. Manteve a prática musical por toda a vida e se tornaria um grande pesquisador e uma autoridade em música popular, além de ser um constante apoiador de instituições musicais. Em 1933 esteve entre os fundadores do Instituto de Música de Natal, sendo um dos redatores dos seus estatutos. Lá lecionou história da música por muitos anos e foi homenageado com o batismo de uma das salas do instituto com seu nome. Em 1934 foi eleito vice-presidente da Sociedade de Cultura Musical, em 1936, presidente, em 1948 era conselheiro de honra e em 1949, homenageado como sócio honorário. Escreveu vários artigos para o periódico da Sociedade, a Revista Som, que ajudara a lançar em 1936 e que passou a dirigir em 1947. Foi diretor artístico do grupo Alma do Norte em 1931 e desde sua fundação foi membro do quadro de honra do Clube do Violão do Rio Grande do Norte, criado em 1948. Foi um dos pioneiros do radialismo no estado, participando da criação da Rádio Clube de Natal em 1935 e da Rádio Educadora de Natal em 1940.
FOLCLORE E PESQUISAS
Casarão de Câmara Cascudo no Centro Histórico de Natal, onde foi instalado o Instituto Câmara Cascudo, que preserva o seu acervo de livros e documentos. |
No ano de 1941, fundou a Sociedade Brasileira de Folclore. Em 1943, a convite do jornalista Augusto Meyer começa a escrever o livro que seria considerado seu magnum opus, o Dicionário do Folclore Brasileiro, que seria publicado pela primeira vez em 1954.
Cascudo tornou-se um dos principais folcloristas e pesquisadores das raízes étnicas do país, sendo autor de uma vasta literatura sobre o assunto. Compilou um copioso acervo de músicas e lendas folclóricas e populares. Em entrevista ao jornal "A Província", disse o seguinte acerca do seu interesse por história: "Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço."
Na década de 1950, ingressou nos quadros da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde foi professor de Direito internacional e diretor do Instituto de Antropologia, hoje o Museu Câmara Cascudo, aposentando-se em 1966. No ano de 1963, viajou para o continente africano, onde visitou uma série de países como Angola, Guiné, Congo, São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau para fazer pesquisas para seus livros A Cozinha Africana no Brasil e História da Alimentação no Brasil.
Câmara Cascudo viagem a África. Foto Ed Keffel, revista O Cruzeiro. |
Manteve-se em íntimo contato com os prefeitos de Natal, como seu conselheiro informal, ao longo de mais de vinte anos entre as décadas de 1940 e 1960, participando intensamente da vida política e cultural da cidade. Sylvio Pedroza, prefeito e depois governador do estado, indicou-o historiador oficial de Natal, encomendando-lhe a produção de uma história de Natal e de uma história do Rio Grande do Norte. Desenvolveu várias outras atividades. Foi membro da maioria dos institutos históricos estaduais do Brasil e de muitos municipais, e sócio da Academia Alagoana de Letras, do Centro de Ciências e Letras de Campinas, da Sociedade Capistrano de Abreu, da Academia Nacional de Geografia e História do México, do Instituto Italiano de Estudos Americanos de Roma, da Sociedade de Folclore de Filadélfia, do Instituto Uruguaio de Folclore, da Sociedade de Estudos Geográficos Argentinos, da Sociedade dos Americanistas de Paris, do Instituto Português de Geografia, História e Etnografia. Foi diretor da Imprensa Estadual, da Revista Jurídica, e do Arquivo e Museu em Natal. Patrocinou inúmeros eventos e congressos de âmbito regional e nacional, coordenou o Departamento de Educação do estado, foi deputado estadual, 3º Consultor Geral do Estado. Criou a Universidade Popular; foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História; fez estudos sobre música, sociologia e geografia, deixou escritos memorialistas, biografias e crônicas, crítica literária, romances e poesias, fez traduções, e deixou uma grande correspondência, sendo especialmente notável aquela que trocou com Mário de Andrade, Joaquim Inojosa, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre e Manuel Bandeira.
Câmara Cascudo morreu na cidade de Natal, aos 87 anos em 30 de julho de 1986, vítima de uma parada cardíaca.
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