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segunda-feira, 24 de junho de 2024

SÃO JOÃO BATISTA (PROFETA ISRAELITA)

 


  • NASCIMENTO: século I a.C.
  • FALECIMENTO: c. 28–30; Maquero, Tetrarquia Herodiana, Império Romano
  • VENERAÇÃO: Toda a Cristandade, em especial a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Anglicana; Islão
  • FESTA LITÚRGICA: 24 de junho (natividade); 29 de agosto (decapitação)
  • SANTUÁRIO(S): Igreja de São João Batista em Jerusalém;  Mesquita Omíada em Damasco & Mesquita Nabi Yahya em Sebastia
  • ATRIBUTOS: Manto de pele de camelo, cruz, cordeiro, pergaminho com as palavras "Ecce Agnus Dei -" , travessa com cabeça própria, derramando água das mãos ou concha de vieira

São João Batista (século I a.C., c. 28–30) foi um pregador itinerante cujo aparecimento se deu na Judeia, provável lugar de nascimento, e na Galileia (c. 28 d.C.), na época de Herodes. João teve muitos seguidores e pregava aos judeus, dizendo que deveriam exercer a virtude e a retidão. Usava o batismo como símbolo de purificação da alma no seu movimento messiânico. A sua historicidade é controversa, sendo referido pelo escritor e historiador Flávio Josefo na sua obra Antiguidades judaicas.

São João Batista, voz que clama no deserto: “Endireitai os caminhos do Senhor. Fazei penitência, porque no meio de vós está quem vós não conheceis e do qual eu não sou digno de desatar os cordões das sandálias,” ajudai-me a fazer penitência das minhas faltas para que eu me torne digno do perdão daquele que vós anunciastes com estas palavras: “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo.”

São João, pregador da penitência, rogai por nós. São João, precursor do Messias, rogai por nós. São João, alegria do povo, rogai por nós. Amém!

INFÂNCIA 

João Batista, como é chamado pelos cristãos, foi, segundo o Evangelho de Lucas, filho do sacerdote Zacarias, de classe sacerdotal e de Isabel, prima de Maria, da família de Aarão. Para a maioria das denominações cristãs é o único santo cujo nascimento e martírio (24 de Junho e 29 de Agosto) são evocados em duas solenidades, e não apenas no meio cristão; há diversos estudos elaborados sobre o tema que o colocam como uma das figuras fundamentais da Bíblia – João e o batismo de Jesus o Cristo – com este acto colocando Jesus no centro de toda história bíblica do Novo Testamento, como sendo o Messias tão aguardado, o que deu início à literatura apocalíptica do fim dos tempos.


João nasceu numa pequena aldeia chamada Ein Kerem, a cerca de seis quilômetros lineares de distância a oeste de Jerusalém. Segundo interpretações do Evangelho de Lucas, era um nazareno de nascimento. Outros documentos defendem que pertencia à facção nazarita de Israel, integrando-a na puberdade; era considerado, por muitos, um homem consagrado. De acordo com a cronologia, João teria nascido no ano 7 a.C.; os historiadores religiosos tendem a aproximar esta data do ano 1, apontando-a para 2 a.C.


Como era prática ritual entre os judeus, o seu pai Zacarias teria procedido à cerimónia da circuncisão, ao oitavo dia de vida do menino. A sua educação foi grandemente influenciada pelas práticas religiosas e pela vida no templo, uma vez que o pai era sacerdote e a mãe pertencia a uma sociedade designada por “as filhas de Araão”, as quais cumpriam determinadas práticas rituais importantes na sociedade religiosa do tempo.


Aos 6 anos de idade, de acordo com a educação talmúdica, todos os meninos deveriam iniciar a sua aprendizagem “escolar”. Em Judá não existia uma escola, pelo que terão sido o seu pai e a sua mãe a ensiná-lo a ler e a escrever, e a instruí-lo nas atividades regulares.


Aos 14 anos, há uma mudança no ensino. Os meninos, formados nas escolas da Sinagoga, iniciam um novo ciclo da educação. Como não existia uma escola em Judá, os seus pais decidiram levar João a Ein Gedi (atual Qumram) com o objectivo de ser iniciado na doutrina nazarita.


Engedi era a sede ao sul da irmandade nazarita, situando-se perto do Mar Morto e a comunidade gnóstica era liderada por um homem de nome “Ebner”.


João terá cumprido os deveres rituais de nazarita que incluíam abster-se de bebidas intoxicantes, deixar crescer o cabelo, não tocar nos mortos. As oferendas que faziam parte do ritual eram entregues em frente ao templo de Jerusalém como o exigia o ritual nazarita.


Segundo o relato bíblico (Mateus 3,4), João também usava veste simples (de pêlo de camelo, um cinto de couro em torno da sua cintura) e alimentava-se de “gafanhotos (ou alfarrobas) e mel silvestre” – considerando que o termo “gafanhoto” é referido a essa planta (Ceratonia siliqua), uma árvore de fruto adocicado comestível, nativa da região mediterrânica, onde provavelmente vivia o personagem bíblico, conhecida ainda como Pão-de-João ou Pão-de-São-João, figueira-de-pitágoras e figueira-do-egipto.

MORTE DOS PAIS E INÍCIO DA VIDA ADULTA

O pai de João, Zacarias, terá morrido no ano 12 d.C. João teria 18-19 anos de idade e terá feito grande esforço para manter o seu voto de não tocar nos mortos. Com a morte do seu pai, a mãe Isabel ficou dependente de João para o seu sustento. Era normal ser o filho mais velho a sustentar a família após a morte do pai e João era filho único. Para se poder manter próximo de Engedi e ajudar a sua mãe, ter-se-ão mudado de Judá para Hebrom (no deserto da Judeia). Ali, João terá iniciado uma vida de pastor, juntando-se às dezenas de grupos ascetas que perambulavam por aquela região, e que se juntavam e conviviam com os nazaritas de Engedi.


Isabel terá morrido no ano 22.d.C e foi sepultada em Hebrom. Após a sua morte João ofereceu todos os bens de família à irmandade nazarita e pôs de parte todas as responsabilidades sociais, iniciando os preparativos para aquilo que se tornou o “objectivo da vida” – pregar aos gentios e corrigir os judeus, anunciando a proximidade de um “Messias” que estabeleceria o “Reino do Céu”. De acordo com um médico da Antioquia, que residia em Písia, de nome Lucas, João terá iniciado o seu trabalho de pregador no décimo quinto ano do reinado de Tibério. Lucas foi um discípulo de Paulo, e morreu em 90. A sua herança escrita, narrada no “Evangelho segundo São Lucas” e “Actos dos Apóstolos” foram compiladas em acordo com os seus apontamentos dos conhecimentos de Paulo e de algumas testemunhas que considerou. Este décimo quinto ano do reinado de Tibério César terá marcado, então, o início da pregação pública de João e a sua angariação de discípulos por toda a Judeia em acordo com o Novo Testamento.

Esta data choca com os acontecimentos cronológicos. O ano 15 do reinado de Tibério ocorreu no ano 29 d.C. Nesta data, quer João Baptista, quer Jesus, teriam provavelmente 36 a 37 anos de idade. Desta forma, considera-se que Lucas tenha errado na datação dos acontecimentos.

MINISTÉRIO

É perspectiva comum que a principal influência na vida de João terão sido o registos que lhe chegaram sobre o profeta Elias. Mesmo a sua forma de vestir, com peles de animais e o seu método de exortação nos seus discursos públicos, demonstravam uma admiração pelos métodos antepassados do profeta Elias. Foi muitas vezes chamado de “encarnação de Elias” e o Novo Testamento, pelas palavras de Lucas, refere mesmo que existia uma incidência do Espírito de Elias nas acções de João.


O discurso principal de João era a respeito da vinda do Messias. Grandemente esperado por todos os judeus, o Messias era a fonte de toda as esperanças deste povo em restaurar a sua dignidade como nação independente. Os judeus defendiam a ideia da sua nacionalidade ter iniciado com Abraão, e que esta atingiria o seu ponto culminar com a chegada do Messias. João advertia os judeus e convertia gentios, e isto tornou-o amado por uns e desprezado por outros.


É importante notar que João não introduziu o batismo no conceito judaico, este já era uma cerimónia praticada. A inovação de João terá sido a abertura da cerimónia à conversão dos gentios, causando assim muita polémica.

Numa pequena aldeia de nome “Adão”, João pregou a respeito “daquele que viria”, do qual não seria digno nem de apertar as alparcas (as correias das sandálias). Nessa aldeia também, João acusou Herodes e repreendeu-o no seu discurso, por este ter uma ligação com a sua cunhada Herodias, que era mulher de Filipe, rei da Itureia e Traconites (irmão de Herodes Antipas I). Esta acusação pública chegou aos ouvidos do tetrarca e valeu-lhe a prisão e a pena capital por decapitação alguns meses mais tarde.

O BATISMO DE JESUS

Batismo de Cristo 1481-1483. Por Perugino, na Capela Sistina, no Vaticano.

João batizava em Pela, quando Jesus se aproximou, na margem do rio Jordão. A síntese bíblica do acontecimento é resumida, mas denota alguns fatores fundamentais no sentimento da experiência de João. Nesta altura, João encontrava-se no auge das suas pregações. Teria já entre 25 a 30 discípulos e batizava judeus e gentios arrependidos. Neste tempo, os judeus acreditavam que Deus castigava não só os iníquos, mas as suas gerações descendentes. Os judeus acreditavam que apenas um judeu poderia ser o culpado do castigo de toda a nação. O batismo para muitos dos judeus não era o resultado de um arrependimento pessoal. O trabalho de João progredia.

Os relatos Bíblicos contam a história da voz que se ouviu, quando João batizou Jesus, dizendo “este é o Meu filho amado no qual ponho toda a minha complacência”. Refere que uma pomba esvoaçou sobre os dois personagens dentro do rio, e relacionam essa ave com uma manifestação do Espírito Santo. Este acontecimento sem qualquer repetição histórica tem servido por base a imensas doutrinas.

PRISÃO E MORTE


O aprisionamento de João ocorreu na Pereia, a mando do rei Herodes Antipas, no sexto mês do ano 26 d.C. Foi levado para a fortaleza de Maquero, onde foi mantido por dez meses até ao dia de sua morte. O motivo desse aprisionamento apontava para a liderança de uma revolução. Herodias, por intermédio de sua filha, tradicionalmente chamada de Salomé, conseguiu coagir o Rei na morte de João, e a sua cabeça foi-lhe entregue numa bandeja de prata.

Os discípulos de João trataram do sepultamento do seu corpo e de anunciar a sua morte ao seu primo Jesus.

JUDAÍSMO

Flávio Josefo, historiador do século I d.C., relacionou a derrota do exercito de Herodes frente a Aretas IV, rei da Nabateia, com a prisão e morte de João Baptista — um homem consagrado, que pregava a purificação pelo baptismo. Flávio Josefo refere também que o povo se reunia em grande número para ouvir João Baptista, e Herodes temeu que João pudesse liderar uma rebelião, mandando prendê-lo na prisão de Maqueronte e matando-o em seguida.

ESPIRITISMO

Para alguns Espíritas, Elias reencarnou como João Batista. Mais tarde, teve outras experiências reencarnatórias, como sacerdote druida entre o povo celta, na Bretanha. Depois, como o reformador Jan Hus (1369-1415), na Boêmia. Na França foi Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), que utilizava o pseudónimo Allan Kardec como codificador do espiritismo. Sua última existência corpórea se deu no Brasil como Alziro Zarur (1914-1979), fundador da Legião da Boa Vontade, entidade de cunho espiritualista-universalista. Outra corrente afirma ter sido Oceano de Sá (1911-1985), fundador da Cidade Eclética, reconhecido como tal por diversas escolas sérias e reconhecidas mundialmente, embora o mesmo não assumisse publicamente pois nunca achou necessário e não queria tirar proveito algum de tal reconhecimento. Tais divergências quanto às reencarnações de João Batista se tornam uma questão de fé, dada a impossibilidade de serem atestadas cientificamente.

João Batista é um símbolo de desapego ao poder. Podia ter usurpado a fama e grande admiração de Cristo, mas optou pela humildade.

ISLÃO

Conhecido como Nabi Iáia ibne Zacaria — Profeta João, filho de Zacarias — ambos são reconhecidos como sendo Profetas do islão. Os muçulmanos acreditam ter sido uma testemunha de Alá, que profetizou a vinda de Issa (Jesus). Dentro da sua tradição, os islâmicos acreditam que Iáia foi um dos profetas que Maomé conheceu na noite de Mi’raj. De acordo com o Alcorão, Iáia era benevolente, sábio, puro e gentil com os pais, que diligentemente praticava os mandamentos do Torá.

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